20 de maio de 2010

Saudades...

Sinto-me uma sortuda por ter vivido em Luanda durante 5 meses e confesso que tenho muitas saudades de lá. Agora compreendo a magia e o brilho nos olhos das pessoas que por lá passaram quando me falavam dessa terra. Sem dúvida que há algo que me prendeu a tudo o que se relaciona com Angola… o cheiro característico, o vermelho da terra, a bicharada, o sol, o calor, os penteados das meninas, as pessoas, as frutas, o trânsito caótico, o mar, a descontracção, a música, os embondeiros, entre outras coisas. Acho que até das coisas menos boas tenho saudades…

19 de maio de 2010

Compra, tia, compra...

As pessoas aqui são, no geral, muito simpáticas. Deve ser do clima! E há uma coisa que não posso deixar de dizer… admiro este povo, porque apesar de não pensarem no futuro (preocupam-se com o dia que vivem, o amanhã logo se vê, pelo que me contaram), são lutadores até dizer chega. Ainda os portugueses que vivem do rendimento mínimo se queixam, com razão claro, mas depois de conhecermos esta realidade, às vezes damos por nós a pensar que até os mais pobres em Portugal são uns sortudos. Vou tentar explicar melhor porquê… as mulheres andam quase todas com crianças de um anito às costas, atadas com aqueles panos africanos, uma pernita para cada lado, esborrachadas contra as costas da mãe. Ao que parece as crianças gostam, mas o que nós vemos é algumas delas a passar sede, a comer poeira, a apanhar sol na cabeça e cheias de calor. Muitas das vezes, as mães andam com bacias enormes à cabeça com coisas para vender na rua, desde chinelos, sabonetes, e outras coisas mais. São mesmo lutadoras! Os homens delas, com quem nem sempre são casadas, porque aqui a poligamia é permitida, pelo que nos contam, não trabalham, andam na bebedeira e vivem às custas das várias mulheres que têm. Quanto aos filhos que têm não lhes ligam grande coisa.
Vê-se tanta criança na rua a tentar "virar-se", porque muitas vezes são órfãs. Mas também são lutadoras, não desistem perante as dificuldades que têm. Vejo às vezes miúdos de 5, 6 anos a carregar bidões, cheios de água e gasolina, à cabeça. Parte-me o coração! Para além disto também há muitas crianças a vender nas ruas. Quando apanhamos trânsito lá estão elas no meio dos engarrafamentos a tentar arranjar uns kwanzas para viver. Vendem desde bolos, bolachas, veneno para ratos, panos para limpar, estantes, pilhas, bebidas, pastilhas elásticas, tupperwares, sapatilhas, chinelos, carregadores de telemóvel para o carro, capas de telemóvel, um sem fim de coisas… há meeeeesmo de tudo à venda na rua!
Acho que ainda não contei como os angolanos gostam da farra, pois não? Todos os fins-de-semana há festas aqui no sítio onde moramos. Juntam a família e os amigos e comem e dançam sem fim! Põem a música muuuuuuuuito alta e até muuuuuito tarde. Houve um dia que a casa atrás da nossa estava em festa e a música durou até depois das 6h da manhã. Mas tal e qual como se fosse uma discoteca ao ar livre.

Presa... eu?! Era só o que faltava!

O dia 5 de Abril e foi um dia muito preenchido. Para começar, estava eu em casa muito bem quando recebi um telefonema a dizer… «preciso de ir à cidade. Sabes ir até ao trópico?» Eu, como já estava uma candongueira de primeira, disse que sim e ai fomos nós à aventura procurar uma clínica pediátrica. Maravilha! Saímos de casa lá pelas 9h30 e não havia trânsito… quer dizer, se fossem do Bom dia Portugal diziam que o dito estava congestionado com abrandamentos não sei onde… ah pois! Bem, às 10h já tínhamos chegado à cidade! Nem dava para acreditar! Agora só faltava seguir as instruções que tínhamos e puuuuuum, ia ser fácil encontrar a clínica, certo? Erraaaaaaado! Oh vida! O curioso e desconcertante ao mesmo tempo, é que o pessoal em Luanda não faz a mínima de como se chamam as ruas. Sorte marreca! Demorámos duas horas a encontrar a clínica!!! Isto porque andámos a perguntar a toda a gente e mais alguma «bom dia, sabe onde fica a rua bla bla bla? (…) ah, ok, viro à direita, a esquerda, bla bla bla, obrigada» Uau, pensámos nós, afinal é fácil. E lá seguimos as indicações do senhor polícia. Afinal de contas é uma referência de confiança, ‘né? Nãããããããão!!! O pessoal não sabe os nomes das ruas. Fogo! Isto acontece porque alguns dos nomes são do tempo colonial e eles não querem saber de nada desse tempo, claro! Enfim, continuando… acabámos por ir dar não à rua que queríamos mas ao hospital com o nome da rua que queríamos. Que, por sinal, viemos a perceber era longe como tudo da clínica… uma comédia! Para piorar ou melhorar, depende sempre do ponto de vista (para quem venha aler isto deve ser giro, digo eu), fiz uma manobra, permitida em Portugal note-se, e fui mandada parar por outro polícia. ‘Tou tramada, filho da mãe. «À sua carta di condução pôr favor? Os documento da viatura?» bahhhhhhh! Lá dei eu os ditos e fiquei à espera da sentença… ahhhhhhhhhhh! Entretanto, comecei a ligar para os grandes do clube, para tentar que eles me safassem da situação. Mas não atendiam ou estavam ocupados… que porcaria! Acabei por ligar ao N. para tentar que ele resolvesse a situação. Entretanto, já o polícia tinha entrado para o jipe e dito «podi siguir com o carro, vamos, pôr favor! A sinhora vai ser apreendida!» E eu nada de andar com o bólide… «primeiro tenho que fazer uns telefonemas!», disse eu! Não brincas! Já me queria levar para a esquadra… ‘tá parvo ou quê? E ele a insistir… «vamos, siga com a viatura…vamos lhe apreender. A sinhora não sabi que não podi conduzir com a carta portuguesa em Angola?» O senhor não sabia, ou melhor, sabia mas queria era «gasosa» (ou suborno, como nós dizemos) que os tugas já podem conduzir por estas bandas? Arre! Mas eu fiz questão de lhe dizer! Como eu não arrancava pé de onde estava com o carro ele começou a perguntar para quem é que eu estava a ligar, quem era o meu marido, onde é que ele trabalhava. Para mal dos meus pecados, tive mesmo que começar a andar em direcção à esquadra… mas fui-lhe dizendo que estava a ligar para as pessoas dirigentes do MI, que o meu marido trabalhava para eles… bla bla bla… e a P. (mulher do M.) ia fazendo o papel de mãe vítima que queria levar o bebé super doentinho à clínica, com urgência… será que nos íamos safar? Hummmm… às tantas, com tanta informação, o senhor polícia começou a dizer «beim, como estão com a criança, vou deixar vocêis ir embora. Dá só pelo menos uma «gasosa» de 1000 kwanzas para eu beber uma bibida (bebida)» Claro que foi esperto em pedir a gasosa e deixar-nos ir, porque ele não tinha por onde pegar comigo.

Tempestades e Gasóleo

Nestas últimas semanas tem trovejado tanto! Quase todas as noites na última semana trovejou. Quase que fica de dia quando há um relâmpago, é incrível! Para além disto chove a cântaros, inundando as ruas com lama e tornando a condução nas estradas um caos! Quando é assim, o trânsito ainda se torna mais complicado. Há 3 dias eu queria passar de carro por uma ponte por onde costumamos fugir ao trânsito mas, por causa das chuvadas da noite, foi impossível transitar naquela ponte improvisada, porque não se via a ponte tal era a força da corrente da água! Lá tive que ir pelo caminho normal, mas mesmo assim até nos safámos rápido. Passado meia hora já estava em casa… e pensar que sem trânsito estava em casa em 5 minutos! Não há nada como experimentar viver noutro país para começar a ver o nosso com outros olhos e aprender a relativizar as coisas! Depois daqui morar acho que não vou dizer mais que há trânsito, que há filas para ir pôr gasolina, que há buracos nas estradas, que os portugueses não têm civismo a conduzir… e outras coisas mais!
Ainda no outro dia era preciso pôr gasóleo no jipe e lá fui eu para a bomba à tarde. Quando cheguei não vi fila nenhuma, o que era muito estranho, mas depois percebi que não havia filas porque a bomba tinha fechado por falta de combustível. Depois descobri que a gasosa chegava às 20h. Lá tínhamos que voltar. No dia seguinte tornámos a ir à bomba e quando estávamos na fila, um senhor que lá trabalhava começa a pôr cancelas, impedindo a entrada de mais carros. Adivinhem o que aconteceu…? Ding, ding, ding… a gasosa tinha acabado. Mais uma vez, em menos de 24 horas. Incrível, não? Por isso, decidimos ir a outra bomba, que costuma ter menos gente mas também estava fechada por falta de combustível.

O quê?!

No dia 20 de Fevereiro fomos todos à cidade. Saímos da cidade às 20h30 e como havia trânsito até dizer cheeeeeeeeeeega só chegámos a casa às 23h40m. Se não houvesse trânsito fazia-se o caminho em 20/30 minutos. Sério!!! Não estou a regar nem nada que se pareça!!! É mesmo verdade!!! Mas porquê?! Como é possível, não é? Ora vamos lá a ver se eu consigo explicar… hummm… Uma estrada com 2 faixas para cada sentido tornou-se de repente numa estrada com um único sentido, o nosso, e 11 faixas de trânsito cheias de jipes, toyotas, candongueiros e camiões… as motas foram as únicas que se safaram!! Para completar o cenário estava a pior tempestade de relâmpagos que se podia ver!!! Parecia quase de dia quando relampejava! Ficava tudo iluminado!!! Foi um espectáculo bonito! Fomos fazendo uns filmes com a máquina fotográfica… tínhamos que nos entreter no trânsito que não andava!!! Foi divertido e enfadonho lá mais para o fim!!! Outro dos motivos que levou a que houvesse engarrafamento foi o facto de a estrada que nós íamos apanhar ter tido exactamente o mesmo engarrafamento… em vez de uma fila para cada lado, tinha 6 ou 7 filas para o mesmo lado, o oposto ao nosso. Como todos queriam aceder a uma rotunda… ninguém andava para lado nenhum, por isso entretanto a polícia apareceu para ajudar a resolver a situação… demorou a resolver mas depois de 3 horas lá nos safámos!!! Depois de conduzir por cá… acho que nunca mais digo que Aveiro tem trânsito… aliás… Portugal!!!

18 de maio de 2010

Só dificuldades…?

…Vivi em Luanda… vivi em Luanda, apanhei trânsito… apanhei trânsito, levei com a poluição… levei com a poluição, pus roupa para lavar… pus roupa para lavar, precisei de água… precisei de água, precisei de electricidade… precisei de electricidade, precisei de gerador… precisei de gerador, pois, precisei de gerador… precisei de gerador, mas nunca o tive… se nunca o tive, houve vezes em que não tive água, não tive luz e não tive ar condicionado… se houve vezes em que não tive água, não tive luz e não tive ar condicionado, passei dificuldades… se passei dificuldades, vivi em Luanda… vivi em Luanda…

Estraaaanho… estranho, não, diferente…

No segundo dia em que saí do hotel fomos ao Jumbo. O Jumbo fica mesmo na cidade, mas não sei precisar a zona. O engraçado foi eu pensar que ia encontrar uma coisa que me fizesse lembrar a Europa. Mas qual Europa, qual quê?! Nada disso! Tinha uma dimensão razoável mas não tinha nada a ver com o de Aveiro!!! Com muita pena minha! Estava mal iluminado, algumas (muitas) prateleiras estavam vazias, não tinham muita variedade em alguns produtos, mas paciência! No final, tivemos de mostrar o recibo das compras e deixar os controladores espreitar para os sacos para conferir os produtos… aqui o pessoal deve roubar que se farta, para eles terem de fazer isto!!! Estranhei muito esta prática nas primeiras vezes mas, realmente, era assim que as coisas eram. Havia sempre, em qualquer superfície deste género, um homem fardado, com ar de poucos amigos, a conferir os talões dos clientes e a espreitar para os sacos, não fossemos nós levar alguma coisa que não nos pertencia! Com o tempo, aprendemos a despachar esta tarefa com a maior das facilidades. Lançávamos um olhar parecido com o dele, levemente impaciente, e a coisa processava-se sem demoras. Isto acontecia no Jumbo, no Mercado Verde, no Shoprite e noutros que agora não me recordo do nome, já que não íamos com tanta frequência.
Mas, o melhor de tudo, era quando tínhamos de trocar dinheiro dentro do próprio supermercado, para poder comprar as coisas. Como o valor do dólar, volta e meia, sofria alterações, tínhamos de conferir bem se o câmbio estava correcto.
O que mais me desesperava (termo um pouco forte mas agora não me ocorre nenhum mais apropriado) era decidir ir fazer compras para casa, dirigir-me ao Shoprite, em Bellas, e dar de caras com prateleiras e prateleiras vazias… vazias, sim!!! Nestas alturas, era comprar o que dava, não fosse daí a umas horas não haver mais nada! Restava-me sempre voltar mais tarde!